Eu odeio os barulhos que as pessoas fazem. Eles não costumavam me incomodar antes, mas, recentemente, algo mudou. Normalmente, uma pequena tosse ou fungada passariam despercebidas, mas agora... agora isso é tudo que ouço.
É algo constante e incessante.
Veja bem, voltei a trabalhar faz pouco tempo, depois de finalmente colocar minha vida no lugar, e acabei em uma pequena mesa num escritório que combina perfeitamente comigo. Trabalho com suporte ao cliente, então, basicamente, ajudo as pessoas com seus problemas quando elas ligam. Tenho até um fone de ouvido e um programa de reconhecimento de voz. Eu realmente não sou bom com computadores, então eles arrumaram tudo pra mim. Agora posso enviar e-mails e escrever documento no word usando a minha voz! Eu amo a tecnologia.
Pela primeira vez na minha vida, tudo estava perfeito. Novo emprego, novos amigos, novas possibilidades de relacionamento e até um novo cachorro! Seu nome é Elle. Minha companhia até deixa eu trazer Elle para o escritório! Eu, sinceramente, nunca estive tão feliz.
Foi quando começou.
Cof cof
Sniff
Cof cof
Atchim
Eram sons normais que ouvi minha vida toda, mas, por alguma razão, agora eles pareciam... amplificados. Como se fossem versões exageradamente altas daqueles barulhos comuns. Lembrava a forma como as pessoas tossem ou espirram quando querem perturbar alguém. Fazia minhas orelhas badalarem. Como isso era possível?
Será que apenas eu percebia?
Parecia que aquelas pessoas estavam tossindo e fungando por um megafone. Eles sabiam o quão altos estavam sendo? O quanto estavam perturbando? O quão irritantes eram?
Não, não é possível que fosse apenas eu. Todo mundo deve ter percebido também, quero dizer, como não teriam? Estava acontecendo ininterruptamente praticamente o dia todo. A cada momento havia uma tosse, um espirro, uma fungada. Como eu poderia me concentrar com todas essas... distrações? Eu era o cara novo e não queria ser o "rabugento" do escritório, pelo menos, não tão cedo, mas esses barulhos... eles eram insuportáveis. Comecei a escrever um e-mail grosseiro pro meu chefe, com as minhas reclamações, mas hesitei.
Não.
Esse era o velho eu. O velho, neurótico e infeliz eu. O eu que se preocupava com tudo e não conseguia se controlar. Respirei fundo e decidi deixar para lá.
Isso foi há dois meses.
Agora estamos na primavera. A temporada das alergias.
Se eu achava que estava ruim antes, agora está um inferno. Todas as pessoas do meu escritórios têm alergias. Todos tossem, espirram, fungam e pigarreiam.
O. Dia. Inteiro.
Eu sentei na minha mesa, cada minuto de cada dia, ouvindo seus barulhos.
Sabe quando você vai nadar ou inclina sua cabeça para o lado errado no chuveiro e caí água na sua orelha? Sabe aquela sensação pulsante e dormente que fica dentro da sua cabeça? Isso é o que eu sentia toda vez que um deles fazia um barulho.
Eu comecei a suar constantemente durante o dia. Eu virava as costas pras pessoas quando elas falavam comigo. Eu gritava com os clientes no telefone. Até fiquei com erupção cutânea. Bem, acho que era erupção cutânea, tudo que sei é que minhas costas nunca paravam de coçar. Eventualmente se espalhou para dentro das minhas orelhas. Eu devo ter usado um milhão de cotonetes tentando fazer a coceira parar. Um colega de trabalho me informou que chegou um momento em que eles estavam vindo cobertos de sangue. Eu não tinha notado.
Isso deve ter assustado algumas pessoas porque, eventualmente, reclamaram com meu chefe. Eles reclamaram sobre mim. Expliquei o problema para ele, que demonstrou falsa simpatia. Ele me disse, "A temporada de alergias vai acabar logo" e que "você estará bem em alguns meses". Então me mandou para minha alegre trajetória de volta para o inferno.
Comecei o caminho de volta para minha mesa, mas quando passei pela sala de lazer do funcionários, ouvi uma fungada alta, seguida de risos abafados. Eles estavam zombando de mim. Não sei quem fez o barulho, mas tenho certeza que estavam todos rindo. Voltei para mesa e sentei. As piadas e imitações acabaram parando e o dia seguiu, apesar dos barulhos reais continuarem. As dores de cabeça começaram novamente. Minhas mãos começaram a tremer pouco depois. Por fim, tudo o que eu ouvia era um incessante zumbido.
Não. Não de novo. Eu já passei por isso. Eu já passei por isso.
"Eu não quero isso." sussurrei no fone de ouvido. As palavras correspondentes foram digitadas no computador...
Alguém deve ter me ouvido, porque logo escutei sussurros seguidos de barulhos forçados. Então, todos eles riram. Tirei meu fone de ouvido, levantei e entrei no quarto de lazer, passando por suas provocações e risadas. Abri a primeira gaveta que encontrei e vasculhei dentro dela, até que encontrei o que parecia ser um alicate de bico fino. O enfiei dentro da minha orelha esquerda, pressionando o canal auditivo, arruinando a orelha no caminho, até que senti força contra as pontas. Abri o alicate o máximo que consegui, o empurrando ligeiramente para frente e então fechei novamente, até poder sentir a carne entre os maxilares. Então eu puxei. Puxei tudo para fora. Fechei o alicate e fiz movimentos de esfaqueamento para soltar qualquer coisa que tenha ficado presa e puxei mais alguns pedaços. Apunhalei mais algumas vezes até que meus tímpanos e todas aquelas outras pequenas partes que fazem que ouvir seja possível não fossem nada mais do que carne esmigalhada.
Estalei os dedos perto do meu ouvido, apenas para ter certeza de que eu não podia ouvir nada.
Coloquei o alicate dentro da minha orelha direita... insatisfatoriamente. Ele estava levemente aberto e eu ainda estava tremendo e a adrenalina bombeava, então eu meio que apunhalei a parte superior e inferior do meu canal auditivo. Profundamente. Deslizei o alicate para fora, sentindo e ouvindo o sangue escorrendo. Alguém entrou na sala de recreamento neste momento e começou a gritar. Eu sabia que tinha enfiado os alicates corretamente na segunda vez, porque ouvi o grito desaparecer. Porém, apenas por medida de segurança, arranquei mais alguns pedaços do interior da minha orelha.
Eu soltei o alicate, sentido a vibração através dos meus pés e andei de volta à mesa, sentido o líquido quente escorrendo pelo meu pescoço. Me sentei, recostando na cadeira, cruzei minhas pernas na minha mesa e os braços atrás da minha cabeça. Então, apenas ouvi.
Silêncio.
O velho e familiar sorriso surgiu em meu rosto.
Traduzido e adaptado por Refúgio do Terror
Fonte: https://www.reddit.com/r/nosleep/comments/1eghov/noises/
Uma pessoa desconhecida entrou numa chamada comigo pelo skype e começou a ler esse texto. Desliguei a chamada várias vezes e voltava a me ligar e ler o texto. Quando acabou o texto desligou e tudo voltou ao normal.
Uma pessoa desconhecida entrou numa chamada comigo pelo skype e começou a ler esse texto. Desliguei a chamada várias vezes e voltava a me ligar e ler o texto. Quando acabou o texto desligou e tudo voltou ao normal.