Nós fazemos nossas próprias brincadeiras


"Ei, crianças... Vooocêeees estãaao prooontaaas pra diversãaaao?" a voz amigável do animatrônico Kary Kangaroo indicava o fim da hora da soneca, como fora em todas as outras tardes. Fiz uma nota mental para pedir que trocassem suas baterias de novo; Kary está começando a soar cansado.

"Como está a situação, Stella?" Walt, um menino sujo e pequeno, me pergunta, parando ao meu lado. Eu me sento, junto das outras crianças, contando. "Um, dois, quatro, sete, nove... Restaram nove. Podemos brincar de espião?" Eu sugiro, limpando minhas mãos no vestido. Cabeças balançam negativamente para a minha ideia e eu sei o porquê; da última vez em que brincamos de espião as trancas nas janelas e as nuvens escuras lá fora nos deixaram tão apavorados que nós tivemos que sentar e cantar músicas de acampamento até que nos sentíssemos melhor. Eu ouço um pequeno soluço atrás de mim, provavelmente de Kaitlyn. Ela sempre chora depois da hora da soneca. É como se lembrar de novo.

"Ei crianças... Vooocêees estãaaao proooon-" Kary é interrompida por Jaden, que bate palmas duas vezes na sua frente, gritando animado "Sim!". Antes era preciso mais do que um de nós para fazer Kary calar a boca, mas agora ele parece satisfeito com apenas uma voz alegre. A luz em seus olhos escurece e logo apaga, e nós sentamos em silêncio.

Eu pisco e esfrego meus olhos, afastando o sono. Walt está ocupado olhando os arredores de novo. Ele é uma criança de olhos esbugalhados, sempre fazendo perguntas, sempre observando. Estou surpresa que ele tenha conseguido ficar por tanto tempo.

A sala de festas é escura, as decorações já estão murchas depois de tantas festas. Chapéus e bolo estão largados na mesa, junto de doces pegajosos e outras coisas de festa. Nossos pais disseram, antes de nos deixarem aqui, que eles cresceram neste lugar, festa após festa, retornando depois de muitos anos para deixar seus próprios filhos experienciarem as brincadeiras de Kary. Eles se esqueceram?

O bolo não é mais gostoso.

"Vamos brincar de Piñata, que tal?" Walt sugere, finalmente. Olho bruscamente para ele, ele encara o chão. Mas ele está certo, minha barriga me lembra. Nos reunimos em círculo, segurando as mãos. Alguns estão mais sujos que outros. Nós escolhemos aleatoriamente e dessa vez é Jaden quem deve ganhar o jogo da Piñata.

Ele se posiciona no meio, numa região limpa da sala de festas, e pega uma grande colher. Com seu grito alegre, ele perfura a barriga macia da piñata, utilizando a grande colher para afastar a pele e fazer um buraco maior. A colher não é afiada, mas é o que temos. O doce derrama no chão.

Já fazem seis... Não, sete dias desde que nossos pais nos deixaram aqui e o bolo e as velas só irão durar mais um pouco. Nós colhemos as entranhas da piñata com nossas próprias mãos, doces e pegajosas. Não há mais nove de nós...

Traduzido e adaptado por Refúgio do Terror:
https://www.reddit.com/r/shortscarystories/comments/3gko5f/we_make_our_own_fun/

0 comentários:

Postar um comentário